Recordo sorrisos abertos e aflitos
Mergulhado na penumbra dos dias e noites
Pleno de aromas, de paz e de sossego
Desassossegados, intensos e serenos…
Abraços eram por dentro
Que apertavam no peito
Invisível a intensidade que brotava
No abraço que não terminava…
Mãos que sempre se entregavam no silencio
De um som vindo de longe
Dedilhando melodiosa musica
Na solitude da vida
Onde a alma ficou perdida…
E foi assim,
Quando pensamos que é o inicio
Apenas chegou o principio do fim…
Hoje dói pegar na esferográfica
Que sempre registou os momentos
Dos dias que não terminam
O sentimento que não acaba
Da mão que já está cansada…
Havia tanto para dizer
Do tanto que foi bem feito
Não havia fim à vista
Do que era a nossa vivência bem vivida…
Hoje falo sózinha
Escrevo para registar cada segundo
Danço para amar
Escrevo como forma de abraçar…
Tantas vezes a tinta se esbate
Mesclando-se com agua salgada
Turva-se a visão
Treme a mão
Baixo a cabeça
Não apetece mais nada
Que não seja ficar calada…
Adeus foi o que não pude dizer
Abraço foi o que não pude renovar
Fiquei apenas sentada a olhar
Gritando ao mundo
A forma como ele me abateu em um segundo…
Fico agora sempre mais só
Com lágrimas geladas
Folhas cheias de vida
De amor, paz e alegria fingida…
Acabaram os sorrisos, abertos e aflitos
Está cravado a ferro e fogo
Dentro das minhas entranhas
Quero agora descansar
Quero não pensar
E porque já não posso ter
Quero apenas adormecer
E em cada sonho rever
A vida que ficou por viver….
Albertina Correia
Há quem diga que a vida nunca fica por viver. Mas isso é para os outros. As dores de quem cria sao superlativas.
Hélas.
É o preço que se paga por as palavras serem assim. Desassossegadas. E nós não conseguirmos domá-las. Elas sempre dizem o que sentimos, e por vezes magoam. Por isso, quando dizemos que ficamos sem palavras, tantas vezes é ficarmos tão cheios delas que dói sair. Então deixamos que elas falem.
E esvaímo-nos nelas, como numa enxurrada em que não conseguimos respirar. De medo ou de pasmo.
Também gostava de ser assim. Mas as palavras fogem por épocas. Contudo, o outono está aí, a estação em que as folhas viram flores se a chuva não as estragar. Lindo o teu poema, e, como dizes, os dias não terminam.
“Por isso, quando dizemos que ficamos sem palavras, tantas vezes é ficarmos tão cheios delas que dói sair.”
Foco-me neste teu paragrafo, por ser tão real, por dizer exactamente o que deve ser…
Neste meu poema, que sendo apenas mais um, é “um” que merece o meu maior respeito…
Pois que, sendo apenas palavras, com elas me fico, identifico, e tenho respeito, porque como costumo dizer nada é ao acaso nem mesmo o próprio acaso, tudo é pensado para ser como tem que ser….