
Ela esperava sempre a tarde, no final do almoço, Ela sabia que ia ficar sempre só!
E todos os dias, durante largos anos, a rotina foi, no início da tarde até a luz desaparecer, ficar sempre sozinha!
Também era certo que era para andar de bicicleta, durante o tempo necessário de a recolherem, até podia ter sido interessante, mas, era uma brincadeira a solo!
No Verão, era sempre mais interessante, havia pessoas na rua, havia o sol, claridade até tarde, mas, de Inverno tudo mudava!
E, mudava tudo da rua, da rua, para um quintal, sem acesso à casa, e continuava tudo na mesma, sozinha até ao final da tarde, apenas alterava a geografia!
Acesso à casa não havia, como referido, era um esmagar de horas, à espera que elas se lembrassem que Ela estava ali sozinha e que existia!
Até que um dia, foi até ao fim do quintal para esticar as pernas, do outro lado do muro com rede, existia um menino, aparentemente da sua idade, entre os seis e os oito anos, e foi assim que durante muitas tardes, brincavam um com o outro, cada qual do seu lado, como se fossem prisioneiros, ela, até era, só que não sabia, ele o menino, de que nunca soube o nome, estava apenas a acompanhar os seus pais, enquanto estes trabalhavam o campo!
Nunca até então, Ela se tinha apercebido da aberração de uma meninice solitária, onde terminava nos dias mais chuvosos, dentro de um anexo sem nada para fazer, onde a sua única distração, era apenas imaginar o que estaria dentro de caixas e mais caixas, solitariamente bem arrumadas, há!, havia também vários poters nas paredes, de uma mulher dos anos cinquenta, loira, com uma fita negra no cabelo, não sei quem era, eventualmente alguma atriz famosa, apenas sei que por baixo de cada poster estava escrito em letras pretas (sim, tudo era a preto e branco) “A idiota”!
Passados tantos anos, acho que aquela “Idiota”, se adaptava na perfeição a Ela, que passava todo tempo, somando e multiplicando tempo, mas, o tempo era sempre o mesmo, MUITO, que idiotice sem escolha !
COISAS DE OUTROS TEMPOS!