Aqui estou eu escrevendo de novo

O meu mundo e o nosso povo

Focando-me desta feita na noite serena…

Por estes dias e estas noites

Escrevo silêncios, murmúrios de gentes

Caminhantes solitários, fantasmas por nós inventados

Luares e estrelas, e muitas noites serenas

Por estes dias e estas noites vai ser mesmo assim

Jamais se esquecerão de mim

Não do que faço ou penso

Mas do que registo e não é dito

Cada noite é uma alma à solta

Cada anoitecer é um silêncio por dizer…

E não podia ser de outra forma

Porque a magia nocturna

Tem outros segredos e outros medos…

Medo de acordar e perceber que está tudo onde não deve ser…

Medo de enfrentar o tempo e o vento

Medo de enfrentar o sol nascente até ao sol poente…

Medo que o medo se deite comigo

Que me dite segredos

Que não pretendo guardar antes de me deitar…

Então me deitarei com calma e serenidade

Não querendo saber de vaidade

De conversas fiadas

De dias repletos de verborreias

De pessoas e de asneiras…

De contos e ditos

De gentes sem imaginação e de outras com muita presunção…

E mesmo que rompam os trovões

Que caia uma chuva intensa

Que a temperatura desça

Nada me deterá

Porque urge escrever até a mão me doer

E de cansada irei de novo pela noite calada

Encontrar-me com o silêncio

Enquanto as horas se derramam

Sobre os silêncios que não param…

Correia, A. ( Noite Vadia) Lisboa 2017