“Olhas as azeitonas” hahahahaha
No outro século, as coisas eram bem diferentes, não havia esta frescura de agora, ai tantas horas laborais, ai salário tão baixo, ai queremos os feriados ,haa vou lixar a entidade patronal , e por aí vai…
Mas, em outros tempos, uma ou outra vez, também havia disto, lixar o patrão, só que, era bem merecido, pois era o tempo em que eles faziam e aconteciam, e, que deu aso ao contrário de agora.
Era apenas um puto em idade escolar (12, 13 anos) , que devido a desvarios e má gestão do pai, foi obrigado, junto a com os restantes irmãos, irmãs e mãe, procurar vida em outras paragens.
Deixou a beleza de trás os montes onde eram “Reis”, e viviam como ninguém nessa época, para dar lugar à maravilhosa cidade invicta, o Porto, onde chegaram com uma mão à frente e outra atrás, mas com uma educação Senhorial.
E, foi assim nestas condições que arranjou o que deveria ser o seu primeiro emprego para ajudar a mãe, carregador de fruta.
E pela manhã, mal chegava o camião o patrão ordenava:
João descarrega a carrinha, mas vê te mexes és lento demais.
E João lá ia, descarregando caixas mais pesadas do que ele, até que de cansado começou a fraquejar das pernas e das maozitas.
Anda lá seu mandrião, mexe-te estou à espera dessa caixa faz mais de 10 minutos, não serves mesmo para nada rapaz.
Ai não, não sirvo mesmo para nada ? Então porque me tem aqui? perguntou João, ainda com a caixa na mão.
Olha rapaz estás a tirar-me a paciência, não te mando mais calar ou trabalhar, daqui a pouco levas um tabefe que nem sabes de que terra és.
Ai isso é que sei, sou de Trás-dos-Monte senhor, e as suas azeitonas também não são daqui, olha só para elas, venha cá fora ver…
Eis que o homem, sai com rapidez de trás do balcão da mercearia para a rua, e, qual o seu espanto e indignação, quando vê João do outro lado da rua a rir-se que nem um perdido, e as azeitonas a rebolarem pelos Clérigos abaixo…
hahahahah, nem as azeitonas o suportam senhor, agora vá apanhá-las que eu vou para a ribeira nadar, e assim fugiu às gargalhadas…
Noitinha chegou a casa, quando olhou para a mãe percebeu que algo não estava bem.
Onde andaste João, perguntou ela?
A trabalhar minha mãe, respondeu.
A resposta da mãe nem se fez esperar, o pão que acabava de cozinhar foi parar direitinho na cara do João.
Espero que quando pensares fazer outra igual à que fizeste hoje, te lembres deste pão e de como ficou a tua cara…
Coisas de outros tempos
Consequências se fosse nos dias de hoje:
Patrão era acusado de trabalho infantil
A mãe era acusada de maus tratos
O patrão talvez levasse nas trombas do irmão mais velho do João
A Mãe seria confiscada pela ASAI, por fazer pão em casa para vender
O filho era vitima de Booling
Acabaria no psiquiatra/psicólogo com um químico qualquer para Hiper actividade
Os tempos mudaram mesmo
Moral, nem oito nem oitenta, mas parece que o meio termo está a sofrer de autismo no Sec. XXI
Correia, A. (2016). Sinais dos tempos. Lisboa: Chiado Editora